quarta-feira, janeiro 05, 2011

Quarto


Sentas-te na cama. A meia-luz, curvado, o teu perfil esguio desenha uma meia-lua.

Observas-me ao longe, encostada à ombreira da porta, de pés descalços e receosos pela ousadia da negligé.

Deixo deslizar o cetim preto até ao chão. Fico imóvel, de corpo nu e alma exposta.

Avanço para ti.

Os meus passos são sementes que lanço à terra, esperando as colheitas que hão-de vir.

Ao caminhar, escuto as promessas do tempo, os sussurros, os risos, e revejo as imagens felizes dos meus sonhos de menina.

Caminho sempre, até os meus pés desaguarem nas tuas veias e se confundirem com o calor do teu regaço, a textura do teu cabelo, o cheiro da tua pele.

E aí, vejo como todos os passos do mundo foram só os bastidores do coração e
que o palco da minha vida começa em ti.